sábado, agosto 14, 2004

Estava bem à minha frente, e ainda assim recusava-me a acreditar no que via. A cena que por tantas noites povoara meus pensamentos desarrolava-se agora, com toda a crueldade da vida real. Senti que meu coração havia parado- ou talvez batesse demasiadamente rápido- e numa fração de segundo o chão foi tirado de sob meus pés."Acabou".
Todas as palavras que possam ter sido ditas não passavam de mentiras. A verdade porém jorrava densa e óbvia, denunciando cada gesto, cada olhar.

quarta-feira, agosto 04, 2004

Sentia a areia mover-se logo abaixo de meus pés. Era uma sensação quente, gostosa, de um conforto que me era tão absolutamente necessário. Fechei os olhos e gozei da vida, como se tudo o que me cercasse fosse feito de alegria. O vento balançou meus cabelos e eu ouvi ao longe a canção das pedras. Levava comigo tudo o que possuía, sentindo nos ombros o peso de um milhão de perguntas não respondidas, de frases não proferidas e de segredos sujos amarrotados pelos anos.
Atirei longe as promessas de cristal, que transformaram-se em centenas de gotas reluzentes, num grito visceral de mulher.

terça-feira, agosto 03, 2004

Era como se vivesse então uma série de sonhos dentro de uma noite de sono alterado.Ora despertava alucinada, vítima de terríveis pesadelos, ora abria os olhos para libertar as lágrimas de represavam-se em minhas pálpebras adormecidas, reflexo de uma felicidade inexistente, mas genuína.Procurava pela beleza que jazia em meus braços. Olhos de criança ainda cerrados, por trás dos quais se escondem todos os mistérios dos homens. Olhos cansados, os quais ainda ontem acudiram-me numa expressão intangível: antes seria um demônio que um anjo. Não houve tempo de conter as palavras.
Eu tenho medo.