quinta-feira, março 23, 2006

Eu buscava a destruição. E onde não a encontrava, tratava de criá-la em suas formas mais irônicas. Com laços de amor, carinho, solidariedade e compaixão. Por onde passava, deixava um rastro palpável de uma plenitude que não fazia mais parte de mim. Disposta a ir longe, até um ponto do qual eu sabia que não haveria retorno. Fracassaria, mas não perderia a chance, a última chance, de tentar.

Meu corpo está pesado, cansado, ferido. Abri meu coração durante tanto tempo, espalhei tudo de bom que havia dentro dele. Nada havia restado. A concha vazia permaneceria ali apenas para lembrar que um dia pulsara vida dentro dela.

Senti-me desfalecer. Eu não levantaria. Havia chegado a hora. A lãmina deslizou devagar, e a dor era a lembrança do prazer do qual há muito fui privada. Quem dera tivesse forças para um últmo sorriso...

Pude vê-la se aproximando. Eu não sentia medo. Ergui minhas mãos para tocá-la, mas ela se esquivou, inexpressiva. Deixa-me ir contigo...- murmurei.

Foram minhas últimas palavras.

Meu Deus, afasta de mim esse cálice...

Opção inválida

Foram tantos dias, tantas noites...tantos obstáculos no caminho...

Opção inválida

Eu só busco um pouco de felicidade...

Opção inválida

Se não houver felicidade, que seja apenas a paz...

Opção inválida

Por quê me deixa conhecer o paraíso onde nunca poderei estar??

Opção inválida

Tire tudo de mim, mas não me negue ao menos o direito de me despedir...

Opção inválida

Tudo o que posso fazer é implorar...

Opção inválida

Eu nunca poderei viver,não é mesmo...Eu nunca estive aqui...

Opção inválida
Tempo esgotado

O sol estava encoberto. Não havia um só pedaço do céu para que eu pudesse enxergar o azul, e encontrar a esperança que, naquele momento, me faltara completamente.
-Então...
Não sabia o que dizer. As palavras me traíam. Qualquer coisa que eu dissesse, seria mentira. Mas se necessário fosse, assim seria.
-Então é o fim.
Nenhuma resposta. Nem sequer o som do silêncio se atrevia a pronunciar-se. Meus olhos estavam secos, eu já não poderia chorar ainda que procurasse as lágrimas. Sabia que as havia desperdiçado ao longo do caminho. Nenhuma tinha sido guardada para aquele instante, que achei que nunca chegaria.

A maldição estava completa.

Eu sentia muita dor. Uma dor como a de queimadura, rasgando-me de baixo para cima, que me fazia suar frio. "Mais um pouco". Eu queria gritar: não podia. E naquele momento eu desejei do fundo de meu egoísmo que todos os seres do mundo sentissem aquela dor comigo."Eu não vou agüentar". Meu corpo todo se contraía a ponto de eu poder sentir os pulmões sendo pressionados, dificultando minha respiração. O frio endurecia ainda mais minhas pernas e o suor gelado escorria, encharcando minha camisa."Não posso desistir agora".

Desse parto grosseiro resultou uma criança natimorta. Sem que ninguém houvesse para testemunhar, eu mesma recolhi seus restos da calçada e depositei na lata de lixo mais próxima, sem ao menos uma prece por aquela alma que nunca viu a luz do dia.