quinta-feira, março 23, 2006

Eu buscava a destruição. E onde não a encontrava, tratava de criá-la em suas formas mais irônicas. Com laços de amor, carinho, solidariedade e compaixão. Por onde passava, deixava um rastro palpável de uma plenitude que não fazia mais parte de mim. Disposta a ir longe, até um ponto do qual eu sabia que não haveria retorno. Fracassaria, mas não perderia a chance, a última chance, de tentar.

Meu corpo está pesado, cansado, ferido. Abri meu coração durante tanto tempo, espalhei tudo de bom que havia dentro dele. Nada havia restado. A concha vazia permaneceria ali apenas para lembrar que um dia pulsara vida dentro dela.

Senti-me desfalecer. Eu não levantaria. Havia chegado a hora. A lãmina deslizou devagar, e a dor era a lembrança do prazer do qual há muito fui privada. Quem dera tivesse forças para um últmo sorriso...

Pude vê-la se aproximando. Eu não sentia medo. Ergui minhas mãos para tocá-la, mas ela se esquivou, inexpressiva. Deixa-me ir contigo...- murmurei.

Foram minhas últimas palavras.