quinta-feira, março 23, 2006

Eu sentia muita dor. Uma dor como a de queimadura, rasgando-me de baixo para cima, que me fazia suar frio. "Mais um pouco". Eu queria gritar: não podia. E naquele momento eu desejei do fundo de meu egoísmo que todos os seres do mundo sentissem aquela dor comigo."Eu não vou agüentar". Meu corpo todo se contraía a ponto de eu poder sentir os pulmões sendo pressionados, dificultando minha respiração. O frio endurecia ainda mais minhas pernas e o suor gelado escorria, encharcando minha camisa."Não posso desistir agora".

Desse parto grosseiro resultou uma criança natimorta. Sem que ninguém houvesse para testemunhar, eu mesma recolhi seus restos da calçada e depositei na lata de lixo mais próxima, sem ao menos uma prece por aquela alma que nunca viu a luz do dia.