segunda-feira, setembro 18, 2006

Nada é mais doloroso do que a verdade, quando se pensa estar vivendo um sonho.
E nada machuca mais do que o golpe da revelação, surpreendentemente brando e doce, cheio de silêncio e envolto em macia calma, quando você mais esperava enlouquecer. A tristeza onde achou que haveria raiva. A resignação quando pensou que brotaria a revolta.
A impressão de que se é um mero espectador. A incerteza desdobrada diante de si, num palco onde esperava-se a encenação de uma peça pronta, de final definido.
A prostração diante do descontrole. Minha maior derrota.
Deixo que as lágrimas molhem uma prece muda. Busco a Deus, mas já não o encontro.

sábado, setembro 16, 2006

Seus olhos doces eram o oposto dos meus. Fitava-me com a inocência típica de uma criança, e essa doçura tinha o efeito de uma lâmina rasgando-me as entranhas corrompidas pelo ódio e pela malícia.
-Por quê tens ódio das pessoas.... Não vês que afoga-te em teu próprio veneno?
Pegou em minha mão ferida, fazendo arder a carne exposta. Cada uma de suas carícias me provocavam uma dor lancinante, que eu suportava calada por achar que merecia. Deixei que puxasse meus cabelos, mordesse meus seios, arrancasse as cascas de meus machucados e introduzisse estranhos e imundos objetos em minhas partes íntimas. A cada aflição eu secretamente ansiava por uma dor maior, esperando resignar-me da culpa e fazer-me digna de um perdão que só poderia alcançar na morte. Eu suplicava pela redenção. Sabia que era a única saída para toda uma existência de humilhações.

Naquela tarde, eu não vi o sol se pôr. As nuvens foram apenas escurecendo até que a noite se confundiu com o prenúncio da tempestade. Não houve poesia, nem amor que acalentasse minha alma. Os sons vinham distantes, alegres ou tristes, mas eram incapazes de tocar-me de qualquer forma. Sentia-me como o som do metal que ressoa no infinito.
Ajoelhei-me e pedi perdão a Deus inúmeras vezes, como se pudesse me livrarda culpa que me pesava nos ombros. Levei as mãos ao ventre, procurando abraçar o filho que talvez já não estivesse mais lá. Minhas mãos eram frias. Meu corpo estava frio. Tudo o que eu podia sentir era o frio daquele lugar que outrora fora repleto de felicidade e calor.

Eu queria morrer novamente, mas desta vez até mesmo esse pensamento era ilícito. Entrei em desespero ao lembrar de minha sentença. Esta haveria de ser longa e dolorosa em seu desenrolar, e ainda mais cruel em seu desfecho.

Foi a primeira vez em que experimentei o arrependimento.

Eu podia sentir seu coração pulsando dentro de mim, roubando-me tudo o que havia construído até então, e abrindo novas portas que eu não sabia para onde me levariam. Queria gritar e dizer que lamentava, mas uma estranha alegria transformava cada lágrima num sorriso. Estava perdida em meu próprio ser, e a partir do momento em que soube que não estaria mais sozinha, havia perdido também a única certeza que trouxe durante toda a vida.

Eu não sabia mais quem eu era.