quarta-feira, dezembro 02, 2009

A poeira formava uma densa camada por cima de tudo. Sinais de corpos e vidas que já não se encontravam ali. Restos fossilizados de felicidade, onde aranhas e besouros faziam seus ninhos. Marcas redondas de lágrimas que caíram e secaram sem que ninguém as enxugasse. Pó, terra, enterro. Mofo, bolor e chorume. Ar parado, contaminado. Se havia sobrado algo de bom no mundo, era longe daquele buraco.
O vento soprou forte, derrubando os tapumes. O sol fez questão de entrar sem cerimônia. Redemoinhos faziam dançar a imundície, varrendo os anos que passaram em vão.

Os pés descalços sobre o vidro estilhaçado. Pegadas de sangue ficavam para trás. E, ainda que a luz ferisse seus olhos há tanto acostumados com a escuridão, ela prosseguiu.