sexta-feira, junho 04, 2004

Despi-me,desesperadamente.O efeito da droga estava passando, eu podia sentir.Não, não! Eu precisava de mais aquele momento de inlucidez!
-Por favor, dê-me agora..!
-Cale a boca.
Eu quase ansiava por aquele toque.Era horrível.Uma íngua especialmente dolorosa espetou-me nas virilhas e eu fui obrigada a curvar-me.Nem sei o que seguiu-se áqueles instantes que pareciam durar uma eternidade.A última coisa de que tive consciência foi seu peso grostesco em cima de mim, aquela carne estranha a dilacerar-me por dentro, sem carinho, sem palavras.
Fadas de cetim pairavam sobre minha cabeça, sussurando acalantos numa linguagem mágica.Fontes douradas jorravam água pura em meio á verdejantes jardins coloridos.Crianças...ah, os sons da infância!Concentrava-me em tudo o que havia de bom, recuperava lembranças de tempos imemoriais, que eu mesma jamais poderia alcançar.Tudo valia, em meu desespero para anular aquele êxtase pervertido.Mas, repentinamente, os cristais se quebravam.Era a guerra suja dos homens.Meu corpo, coberto de lama e detritos, como se eu houvesse sido banhada no gozo frio do Senhor do Caos.Maldita seja.
Recolhi,apressada, o dinheiro e a droga que foram jogados no chão, onde eu me encontrava.Ensaiei protestar por dignidade, como se eu não fosse, de fato, lixo.E como lixo arrastei-me pela imundície de meu ser para onde ninguém, nem a mais vil das criaturas pudesse me encontrar, até que fossem remendadas as feridas de meu fantasma.Incapaz.Incerto.Insone.Insano.
Parecia...parecia que eu estava sendo traída.