quinta-feira, abril 26, 2007

...e eu caminhava. Conformada e resignada a sofrer para sempre. Tristeza, luto, lágrimas: este era meu passado, e também seria meu futuro. A busca havia acabado, não havia por quê continuar vagando pelo mundo, procurando algo que, agora eu sabia, era impossível encontrar. Havia outrora prometido a mim mesma que prevaleceria, enquanto tivesse um objetivo. Eu o havia alcançado, e ele não existia.
Num canto sombio e úmido como minha própria alma, refugiei-me para a repugnante e solitária tarefa de amputar minhas próprias asas. A visão decadente, oleosa e suja do que antes eu tinha de mais maravilhoso era mais dolorosa do que a lâmina deslizando pela pele, dando livre vazão ao sangue quente e vermelho- único sinal de vida que pulsava desesperadamente do meu corpo mutilado. Minhas mãos tremiam, comecei a sentir frio. E no instante seguinte, tudo era escuridão.

E paz.

Ao meu lado, uma silhueta parecia oferecer apoio. Eu pude distinguir o contorno de sua mão estendida. Um aroma familiar e tranquilizante embriagou-me as narinas e eu quase sorri, achando que o cheiro me trazia lembranças boas, as quais eu não conseguia resgatar.
Hesitei em aceitar a mão da sombra que me amparava. Permaneci imóvel, esperando fingir-me de morta. Mas meu invisível companheiro não recuava, e agora movimentava a mão, insistindo para que eu aceitasse seu impulso, e me pusesse mais uma vez de pé.

Timidamente, ergui o braço, num esforço para fazê-lo apesar da dor e da hemorragia. Abri a mão espalmada, esticando os dedos para que tocassem os dele. Eu não tinha mais medo nem expectativas. Não havia mais nenhuma saída, qualquer acontecimento seria lucro, enquanto ainda estivesse viva. Achei que nada mais poderia me atingir.

E então, a revelação.